Com o carnaval se aproximando, dezenas de blocos tradicionais de Beagá iniciaram seus ensaios abertos, apresentações em diversos locais como aquecimento e preparação para os dias tão esperados de folia. Apesar das chuvas fortes na capital mineira no último mês e no último dia 06 de fevereiro, o grito de carnaval inédito do URC, marcado para essa data, não foi cancelado e recebeu a ilustre apresentação do “Alalaor”.
A organizadora do evento, Rô, chegou cedo no clube para preparar o local da folia com enfeites, espaço para comes e bebes e alinhar os detalhes com os funcionários do URC. De acordo com a Rô, a ideia do carnaval foi uma sugestão dos próprios associados que gostam de prestigiar o clube e encontrar os amigos em todas as ocasiões festivas do ano. “O evento só não superou as expectativas devida a forte chuva que o inibiu. Mas penso que ficou a amostra de que o melhor poderá acontecer”, comenta a organizadora.
O bloco que fez as honras da casa, o “Alalaor”, tem sua origem também na região leste de Belo Horizonte, no bairro tradicional Santa Tereza. Nos dias festivos do carnaval, o bairro que é conhecido pela diversidade e força cultural recebe nas ruas os blocos familiares que encantam com suas marchinhas, bateria, banda e criatividade dos temas apresentados. Mas o motivo mais forte por ter sido o “Alalaor” o bloco a inaugurar a data carnavalesca que poderá entrar para o calendário festivo do URC é que o grupo conta com associados dedicados e leais ao clube.
Ana Cláudia Álvares de Rezende, 50 anos, frequenta o clube desde criança. A associada toca caixa na bateria do bloco que conta com mais de 50 ritmistas: “é com muita alegria que estamos aqui e não é à toa que nossa bateria chama-se “alegria”.
O dirigente do “Alalaor”, Júlio César da Silva Araújo, que também é dentista e servidor público federal, conta que é sócio do clube há três anos, mas que, no entanto, também frequenta o local desde criança, pois possui muitos familiares que são sócios antigos do URC. Como cresceu no Santa Tereza, sempre participou junto com os irmãos, parentes e amigos de matinês, festas e carnavais do bairro. Porém, seu pai, natural de Catas Altas da Noroega, sempre sentiu vergonha em “desfilar”desde a época da sua juventude em sua cidade natal. A razão para sentir-se intimidado é que a cantiga ” alá lá ô ô ô ô ô ô ô…” lembra o nome dele, Sr. Alaor, e nunca passava “em branco” as brincadeiras anuais com sua personalidade durante o carnaval.
“Papai nos levava, mas nunca participou efetivamente do carnaval. A gente notava que ele tinha uma coisa contrária à festa. Com o passar dos anos, Santa Tereza se tornou um bairro muito boêmio, e a nossa rua lá, Divinópolis, é muito tradicional, é a rua do “Clube da Esquina” e local de passagens de muitos bloquinhos de carnaval”, relata Júlio que apresenta esse contexto para explicar sobre a resistência do pai em relação à folia. Parece que nos anos 40 o carnaval era feito só de “marchinha” e a mais famosa assemelhava-se ao nome do Sr. Alaor. Como nos últimos anos Belo Horizonte resgatou essa cultura da “marchinha”, parece que o Sr. Alaor começou a reviver o trauma da juventude.
Porém, em 2016, Sr. Alaor superou a “zueira” dos tempos em que era jovem. Júlio César conta que seu pai começou a sentir satisfação em ver sua família feliz durante o carnaval. Naquele ano, Júlio propôs que eles desfilassem no famoso bar do “Orlando”, onde o bloco dos “pescadores’ estavam se apresentando. “E ele estava para completar 90 anos e nunca tinha saído para o carnaval. Mas nessa nossa conversa, eu falei para ele que era uma vergonha uma família daquele tamanho e ninguém nunca ter conseguido levá-lo e ai tive a ideia de montar o bloco Alalaor”, conta Júlio.
Foi assim que começou a trajetória do bloco que já conquistou, de lá para cá, seu espaço como um dos mais notórios blocos familiares de carnaval, ganhando até subsídio da Prefeitura para fazer bonito nas ruas da cidade. Infelizmente, o Sr. Alaor faleceu em dezembro do ano de 2017, mas é claro que ele não se despediu sem desfrutar com a família e com os amigos da alegria do carnaval, sobretudo, da folia dedicada especialmente a ele. Deu tempo de segurar o estandarte como porta voz do bloco criado em sua homenagem.
Em meio ao luto, Júlio César tomou a decisão de continuar a se dedicar ao bloco e conseguiu fazê-lo crescer cada vez mais. “Tinha pouco tempo para organizar tudo para o carnaval de 2018”. Com o apoio da família, reuniu tudo o que foi necessário como um grupo inclusivo para cumprir as exigências que garantiriam subsídio pela Prefeitura. Deu certo. Já em 2019, ele não conseguiu o auxílio, mas mesmo assim conseguiu botar o bloco na rua. “Agora, em 2020, temos muitas novidades. Conseguimos subsídio novamente pela Prefeitura na categoria A e vamos fazer a festa bem legal! Dia 24 é nosso desfile oficial “, revela o dirigente do bloco inclusivo e familiar, que conta com idosos e crianças na bateria.
O presidente da UPMSI\URC, Paulo César, o “PC”, marcou presença no “grito de carnaval” e reafirma a importância dos gestores institucionais se aproximarem de grupos da comunidade que compartilham da missão semelhante em promover a cultura, o esporte e a inclusão.
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foto da Home no site (da esquerda para a direita): Rô, equipe de eventos URC, o dirigente do Bloco “Alalaor”, Júlio César e o presidente do UPMSI, “PC”